6.12.09

pre-moment.

O fim está próximo. Eu sinto-o. É o momento de decidir entre a verdade e a mentira, o sonho e o pesadelo, a luz e a escuridão – quando os jogos acabam, quando não há mais sítios onde me esconder, quando as linhas da história se cruzam, quando o destino de todos nós é decidido. O momento está próximo, a sala está fria, o ar gélido e a tensão congelando os meus ossos e músculos. Arranjo-me melhor no meu lugar em cima do balcão, o pedaço de papel nas minhas mãos a tremer, ameaçando fugir a qualquer momento, pressentindo também ele a definitividade do momento. Perguntei-me várias vezes se isto seria mesmo necessário, se seria necessário destruir tudo aquilo que conheço, se seria necessário sair da minha zona de conforto. Por mais que me tentem convencer do contrário, não há volta a dar.
Um barulho nas escadas, está aproximar-se. Uma torrente de emoções – medo, entusiasmo, nervosismo – afoga a minha respiração num ritmo descontrolado. Quero fugir. Fugir é o que eu faço melhor seja qual for a situação mas não tenho para onde fugir, é tarde demais, tenho de fazer isto. Tento inundar-me de pensamentos positivos, o porquê de eu estar a fazer isto, o que aconteceria se não o fizesse. Mas positivismo nunca foi o meu forte especialmente quando cada milésimo de segundo pode ser o último desta paz.
A porta abre-se, um vulto emerge apalpando por uma luz que lhe mostre que sou eu que me encontro nas sombras nocturnas da cozinha dura. Segundos depois toda a casa se encontra iluminada, mas dificilmente mais quente ou mais acolhedora ou mais positiva, apenas mais clara. Observo tudo isto do canto do olho, não preciso de me virar para saber quem vem aí, o que vai acontecer a seguir, para saber que lentamente um olhar fixante se vai tornando cada vez mais profundo na minha face esquerda.
Não sou feita de pedra, ao contrário do que se possa pensar, pelo contrário. Se o fosse nada disto seria necessário, tudo teria acabado há muito tempo; mas sou uma pessoa, e como qualquer outro ser humano possuo algo muito irritante chamado esperança. Acredito que é por isso que ainda me dou ao trabalho, que ainda me esforço, que ainda luto, se não tivesse esperança nada disto faria sentido. Antes que me consiga pronunciar, pequenas bolsas de água que se formaram nos meus olhos, quebram-se, molhando a minha cara de água salgada.
‘Temos que falar.’
Olho-a nos olhos. Ambas sabemos o que vai acontecer a seguir, não vale a pena negar. O mundo como nós o conhecemos está prestes a acabar – a verdade esclarecida, o sonho libertado, o amanhecer de uma nova guerra impressa neste destino que escolhi por todos nós. O fim está próximo, eu sei-o, o frio sabe-o, ela sabe-o, só falta saber quem o pronuncia primeiro.

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Não tem muito sentido. Foi um momento que eu imaginei a acontecer...

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