16.1.10

real me.

Há uns tempos atrás participei num projecto de uns amigos meus chamado "O Homem Pássaro", o qual consiste de uma publicação de uma revista mensal online.
Anyway, eu fui escritora convidada no mês de Novembro com este texto:


Já há muito que as cores não eram tão vividas, que os sons não eram tão claros, que eu não estava viva. É fácil pensarmos todos a mesma coisa, vestirmos todos a mesma roupa, sermos todos produzidos em série. É difícil distinguir os sonhos da realidade, lutarmos por aquilo em que acreditamos, pelo que amamos. Há noites frias e escuras de Inverno que eu passeio pelas ruas e observo a dinâmica da vida dos outros – porque essa sempre foi mais interessante que a minha –, imagino de onde vêm, para onde vão… No fim são pessoas como eu. Têm vidas, família, cores preferidas, … Mas será que se lembram do que é ser?
No autocarro, impessoal e malcheiroso, uma rapariga com um gorro branco está a ler um livro. Fico a observá-la: quem é, que tipo de pessoa é, em que escola anda, tem namorado? Provavelmente é alguém de quem os pais estão orgulhosos, com poucos amigos, mas bons, notas quase perfeitas, quer ser a melhor e tem sempre alguém especial que está disposto a ouvi-la. Às vezes queria ser essa rapariga, queria ser alguém de quem os meus pais têm orgulho, queria ser uma melhor amiga, uma melhor estudante. Talvez não fosse ‘eu’, mas seria certamente mais agradável para os outros.
Porém só quando ela retribui o olhar é que eu percebo que a vida que eu criei para ela não é verdadeira, assim como eu não sou quem ela pode imaginar. E por isso é que o meu passatempo indiscreto é tão interessante – aquela inocente rapariga podia até ter uma vida mais difícil que a minha mas na minha imaginação ela será sempre alguém que eu quero ser.
É difícil ser-se alguém quando todos nos pressionem para sermos a mesma pessoa. A pessoa certa. Mas qual é a pessoa certa? Existe uma resposta para isso? Após 17 anos da minha vida, olho para trás e vejo que me deixei enganar pela vida. E agora, o que é que tenho para oferecer? Nada. Tenho-me a mim, a uma pessoa real, a uma pessoa verdadeira. É mais do que muitos têm, mas não é suficiente. Todos esperam algo diferente de mim, até eu espero algo diferente de mim... Mesmo assim, no fim do dia, deitada a observar as estrelas no céu escuro de Inverno tudo o que eu tenho é esperança e lágrimas e tudo o que eu quero, tudo o que todos queremos, é a verdade – e bem, possivelmente felicidade – mas raramente a encontramos. Não é fácil. Fácil é desistir de a procurar.

Retirado de O Homem Pássaro nº2
Eles ainda não têm muitos leitores, por isso se gostaram deviam dar uma vista de olhos no blog deles. Aconselho a começarem pelo nº1 porque há histórias que começaram nessa edição.
E já agora obrigado a todas por me desejarem as melhoras! Resultou, já estou melhor e ansiosa por sair de casa (ao contrário de vocês hehe).

2 comentários:

Inês disse...

Este ainda não tinha lido. Aliás, porque se tivesse lido lembraria-me, DE TODO! AMEI *.* Um dia ainda vou aprender a escrever assim, ahaha.

Beijinho miuka.
P.S. Já sabes, fascinas-me. Ahaha

Unknown disse...

Vim parar ao teu blog por acaso e
achei interessante o post porque já dei por mim a pensar nessas coisas. Olhar para as pessoas e pensar quem são. Há gente tão concetrada nelas próprias que nunca sequer pensou nisso. Para nós pode parecer estranho, mas é verdade ;)