25.5.08

A Ti AVô - 5 anos

A ti avô porque és especial. És especial porque sim. Não tenho razão. Mas… é preciso? Não faz mal, tenho muitas para te dar. Podemos começar com a mais precária de todas… o facto de me teres educado. Não é a melhor claro, mas parece-me a mais plausível para quem não nos conheceu. Eras tu que me levavas a ver os pombos, lembraste? Era tão divertido! Levaste-me a andar de metro pela primeira vez, e foi aí que me apaixonei por esse bichinho do subsolo que tu tão bem conhecias. Lembro-me de me levares a passear ao Carrefour com a avó. Era um acto bastante simples, mas sabes como eu adorava aqueles passeios. Afinal eram raros e divertia-me sempre imenso. Lembro-me de ás vezes estar em casa com a avó. Ela estava a fazer o almoço e eu estava á tua espera. Fiquei preocupada pois nunca mais chegavas e já estava a ficar zangada, mas depois apareceste com um sorriso e um embrulho nas mãos. Tinha comprado aquilo a que a minha avó costumava chamar de “aparelhómetro inútil”, mas que apenas se resumia num aparelho electrónico. E tudo isto porque me amavas… Porque mais ninguém me amava como tu. Era rejeitada, e ao habituar-me ao teu amor não reparei que era como uma droga que provoca uma espécie de vício leve. Pois quando voaste em direcção ao céu e me deixaste eu senti parte do meu espiríto voar contigo também. Parte do meu espiríto que nunca mais voltou, mas que sempre tenta voltar nas alturas mais difíceis. Sei que estás por trás dessa tentativa de regresso, pois sinto o teu perfume novamente, parece que revejo o teu sorriso no meu próprio rosto… Oh! Só Deus sabe a falta que me fazes nessas alturas difíceis. Ás vezes ponho-me a pensar no que teria sido a vida se estivesses aqui comigo… Seria mais feliz? Sim, sem dúvida posso afirmar isso. Eu seria mais feliz. Tenho a certeza que a minha vida teria sido toda muito diferente… Mas ao pensar nisso lembro-me daquela última semana quando regressei à tua casa e da avó. Estava notoriamente mais triste naquela noite, onde o sol já não banhava a varanda onde tu te encontravas a consultar alguns documentos. E depois de ter visto tudo aquilo e de perceber que tinha de espairecer e que aquilo certamente nada daquilo me poderia estar a acontecer a mim, quando eu já ia ao fundo do corredor, tu chamaste por mim. Já não era aquela voz alegre e divertida, não. Não, nunca mais tinha sido a mesma desde que voltaras aquela casa, pois até tu já tinhas consciência do que se sucederia. Mas mesmo assim, juntas-te todos os teus esforços, e gritaste por mim. Eu, consciente de que poderia ser a última vez que conseguirias gritar assim por mim, acorri. Corri tão depressa quanto pude por aquele corredor, e quando olhei para ti e me estendeste uma velha e dobrada nota de 5€, apeteceu-me rir e chorar ao mesmo tempo. Era tão simples, comparado com a complexidade daquilo que sentia. Mas aproximei-me e peguei. Mais tarde deixámos a casa e eu tinha o pressentimento que aquela casa iria ser mais deprimente da próxima vez, parecia até que a casa começara um choro interminável. Nos dias seguintes proibiram-me expressamente de voltar à casa para te visitar. Eu não percebia porquê, fingia não perceber, não queria aceitar uma realidade que era demasiado dura e ainda desconhecida para mim. Pois nem para a aceitar tive tempo. No dia 25 de Maio o sol acordou radiante mas triste. Como última homenagem ele brilhava, mas tenho a certeza que se não fosse por isso, nunca mais ele brilharia. Quando soube a minha reacção foi pacífica, mas percebi, contudo, a grande mudança ocorrida em mim. Eu crescera, e bastante. Para mim perder-te foi como perder os pais. A partir daí comecei a adoptar o velho método que hoje em dia tento controlar: o planeamento. Simplesmente comecei a planear todas as situações que me poderiam passar à frente e não consigo parar de o fazer, pois tenho medo do que possa vir a acontecer. Tenho medo de ter mais desilusões, como muitas outras que já tive ao longo da minha vida. Sei porque comecei a sofrer mais a partir daí: nunca mais estiveste ao meu lado para me proteger. Pelo menos não num estado físico visível. Hoje já aprendi que estás sempre do meu lado quando eu preciso. É só preciso saber chamar-te…