10.12.09

for ever.

O dia está cinzento, um típico dia de Inverno, o frio congela-me as mãos, duas ou três madeixas de cabelo a voar ao sabor da brisa gélida. As árvores já adquiriram a tonalidade avermelhada, o horizonte indistinguível toldado pelo nevoeiro intenso. Como sempre. O cheiro a canela, os dias curtos e a chuva frequente e intimidadora, já se manifestam. Como sempre. Dizem que o Inverno como nós o conhecemos vai dentro de poucos anos acabar, mas até lá os sinais de que a estação mais mágica do ano já chegou são um valor seguro, como sempre.
O vento toma um novo rumo, a neblina húmida envolvendo os meus pensamentos nostálgicos. Ainda me lembro de um dia, muitos dias atrás, me dizerem num dia como o de hoje, que os bons amigos são para sempre. Para sempre… Era uma promessa entusiasmante até que o primeiro dia da Primavera chegou e ‘o sempre’ passou a nunca mais, e essa foi provavelmente a promessa mais desapontante e a última em que eu acreditei tão inocentemente.
Não posso deixar de pensar que tudo o que é verdadeiramente bom, eventualmente acaba. Então qual é o objectivo de lutarmos por esses pequenos tesouros? No fim do dia, o mais importante são os bons momentos vividos, as experiências que jamais teríamos de outra maneira, as memórias que ficam para sempre. Não quero perder amizades, não claro que não, mas nem todos os laços são eternos.
O céu está cada vez mais escuro, os chuviscos a tomar corpo e força, o vento mais do que uma inofensiva brisa obriga-me a manter os meus olhos semi-cerrados. Tudo parece girar à minha volta depressa demais por mais que eu queira prender cada segundo, eles escapam-me por entre os dedos. Não consigo deixar de pensar onde estarei daqui a um ano, onde estarão estas árvores, qual será o horizonte à minha frente, e enquanto fantasio sobre este mundo que está para vir esqueço-me de viver o presente convenientemente, aquele que vai constituir quem eu sou para sempre.
Sempre? Sempre. Ou nos comprometemos a viver cada momento e a relembrá-lo para sempre ou estamos a perder o nosso tempo aqui parados a ver o Mundo dar mais uma volta.

7.12.09

on the horizon



there could be good and bad things though it looks mostly pretty and desirable.
there could be rainbows and storms though all I see is colorful dreams
in that line, whether it be blue, grey, pink or black,
all I see is the non-ending happiness.

6.12.09

pre-moment.

O fim está próximo. Eu sinto-o. É o momento de decidir entre a verdade e a mentira, o sonho e o pesadelo, a luz e a escuridão – quando os jogos acabam, quando não há mais sítios onde me esconder, quando as linhas da história se cruzam, quando o destino de todos nós é decidido. O momento está próximo, a sala está fria, o ar gélido e a tensão congelando os meus ossos e músculos. Arranjo-me melhor no meu lugar em cima do balcão, o pedaço de papel nas minhas mãos a tremer, ameaçando fugir a qualquer momento, pressentindo também ele a definitividade do momento. Perguntei-me várias vezes se isto seria mesmo necessário, se seria necessário destruir tudo aquilo que conheço, se seria necessário sair da minha zona de conforto. Por mais que me tentem convencer do contrário, não há volta a dar.
Um barulho nas escadas, está aproximar-se. Uma torrente de emoções – medo, entusiasmo, nervosismo – afoga a minha respiração num ritmo descontrolado. Quero fugir. Fugir é o que eu faço melhor seja qual for a situação mas não tenho para onde fugir, é tarde demais, tenho de fazer isto. Tento inundar-me de pensamentos positivos, o porquê de eu estar a fazer isto, o que aconteceria se não o fizesse. Mas positivismo nunca foi o meu forte especialmente quando cada milésimo de segundo pode ser o último desta paz.
A porta abre-se, um vulto emerge apalpando por uma luz que lhe mostre que sou eu que me encontro nas sombras nocturnas da cozinha dura. Segundos depois toda a casa se encontra iluminada, mas dificilmente mais quente ou mais acolhedora ou mais positiva, apenas mais clara. Observo tudo isto do canto do olho, não preciso de me virar para saber quem vem aí, o que vai acontecer a seguir, para saber que lentamente um olhar fixante se vai tornando cada vez mais profundo na minha face esquerda.
Não sou feita de pedra, ao contrário do que se possa pensar, pelo contrário. Se o fosse nada disto seria necessário, tudo teria acabado há muito tempo; mas sou uma pessoa, e como qualquer outro ser humano possuo algo muito irritante chamado esperança. Acredito que é por isso que ainda me dou ao trabalho, que ainda me esforço, que ainda luto, se não tivesse esperança nada disto faria sentido. Antes que me consiga pronunciar, pequenas bolsas de água que se formaram nos meus olhos, quebram-se, molhando a minha cara de água salgada.
‘Temos que falar.’
Olho-a nos olhos. Ambas sabemos o que vai acontecer a seguir, não vale a pena negar. O mundo como nós o conhecemos está prestes a acabar – a verdade esclarecida, o sonho libertado, o amanhecer de uma nova guerra impressa neste destino que escolhi por todos nós. O fim está próximo, eu sei-o, o frio sabe-o, ela sabe-o, só falta saber quem o pronuncia primeiro.

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Não tem muito sentido. Foi um momento que eu imaginei a acontecer...