4.2.08

Dreams For Friends - more personal than it seams to be

Bodmin, 27 de Janeiro de 2003


Querida Meredith,
Como vais aí em Lisboa? Esta é a minha nova morada em Inglaterra. Teria muito gosto em que me viesses visitar e claro, ver a minha nova casa.
Pelos jardins eu passeio, na r
elva, em direcção ao lago. O meu vestido de algodão amarelo claro mexe-se levemente enquanto ando, levanto a aba do meu chapéu branco com um laço amarelo a tempo de ver o sol a começar a descer.
Hoje deitei os meus sapatos de balle
t velhos fora, só para que saibas. Pensei que gostasses de saber uma vez que sempre os adoraste – as maravilhosas sapatilhas de ponta renascença. Há quanto tempo esses tempos já foram não é? Sinto-me velha ao dizer isto mas o tempo passa a correr de facto.
Sei que vais ficar desapontada mas esta é provavelmente a última que escrevo. Não só cartas, mas qualquer outro tipo de textos pois como já estou farta de repetir encontrei os meus sonhos. Encontrei-os, fi-los acontecer, agora é altura de ficar por aqui, a tomar partido deles…
De qualquer maneira não te prendas a mim. Por esse mundo afora existem sonhos diferentes dos meus, vidas diferentes da minha. Por esse mundo afora existem coisas que tu nem imaginas, que eu nem imagino. Por esse mundo afora existem coisas que nunca ninguém viu, que nunca ninguém descobriu – mas com que toda a gente sonha.
Eu porém já não posso partir em busca de tais coisas. Eu já não posso partir mais pois estou presa, presa por correntes. O meu coração prende-me e as correntes, essas são os meus sonhos realizados.
Tu, tu sim deves ir, partir, correr em direcção a esse infinito. Deves voar até às nuvens mais altas, mergulhar nos oceanos mais profundos, correr por entre as ondas que morrem na praia. Tu sim deves dar a volta, girar à volta do Mundo, tu sim deves ver as coisas que eu nunca tive tempo de ver porque me deparei com estes sonhos.
Tu sim deves procurar quem és. Viaja, corre, grita, encontra-te. Não te prendas a futilidades, não te prendas a mim, não te prendas a ninguém, nem à Terra. Olha o sol todos os dias como se fosse a primeira vez, pois pode ser a última.
E só um conselho turístico: visita Londres. Talvez seja a inspiração de que precisas.
Agora fico-me por aqui, pensando ainda nas minhas próprias palavras, na linha entre a Terra e o pôr-do-sol. Talvez esta carta esteja a ser pessoal de mais, talvez não – decide tu, só sei que apesar de já ter os meus sonhos a única coisa em que consigo pensar é na minha morte.
Da sempre tua,

Catherine

Nenhum comentário: