13.1.08

Noite na cidade - Uma invasão de pensamentos

É noite na cidade. É uma noite escura e fria, em que todos se recolheram nas suas casas, menos eu. Eu ando lentamente pelas ruas desta cidade inspirando o ar frio da noite, cortante, um frio que explicava muito do que eu sentia.

Não posso ir para casa. Parei, no meio daquela rua, com o frio, com tudo, e este pensamento invadiu-me a mente. Não posso voltar para casa, não posso. É tarde demais… É tarde demais para voltar atrás, com as coisas que dissemos e fizemos. Há certas coisas que depois de ditas não se podem retirar, há certas coisas assim, e ao início podemos não saber bem o que são, mas com o tempo aprendemos.

Vou partir, foi então a minha decisão. Vou partir, para longe, certamente, para um sítio tão longe em que as memórias não me poderão perseguir. Um sítio onde se acredite em recomeços, pois para além de eu não acreditar, preciso de um.

Estou a ouvir a mesma música há quase duas horas. É uma música que combina perfeitamente com o tempo, comigo, com o que aconteceu. É uma música despedaçada, assim como eu estou. Despedaçada com as memórias de algo com que não consigo viver…

Eu preciso de sair daqui. Eu preciso que este frio pare de uma vez por todas. Eu preciso de me despir de todas estas memórias que estão a condicionar este momento. Eu preciso de cortar as correntes que prendem a minha boca, porque não quero mais destes tabus na minha vida. Eu preciso de recomeçar. Longe. Onde não me encontrem, onde eu possa ser feliz. Vou emigrar, como uma ave faria quando o clima é desagradável. Eu preciso… e de qualquer maneira é inevitável. Os meus pulmões estão tão pesados com o chumbo que paira no ar que eu, eu já não consigo respirar mais. O meu coração está tão apodrecido que eu duvido que ele volte a bater. Mas se eu continuo a respirar, se o meu coração continua a bater, isso deve significar alguma coisa. Deve significar que esta é a minha segunda oportunidade, para sair deste sítio, onde, para começar, nunca deveria ter estado.

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